segunda-feira, 28 de março de 2011

CORRUPÇÃO


O CÂNCER da corrupção se instalou na política institucional, está avançando, ameaça se tornar uma metástase e matar o que resta de credibilidade nas instituições públicas e na democracia. O pior que pode acontecer é atribuir tal calamidade a determinado partido, governo, pessoa, razões históricas e culturais ("brasileiro é assim mesmo"). Ou ainda a questões morais, já que o que nos restaria seria oscilar entre o pessimismo e o fatalismo ("não tem jeito mesmo") ou achar que, mudando de partido, governo, pessoa ou apenas pregando valores morais, acabaríamos com a corrupção na política.

Já que a corrupção é quase generalizada, precisamos tomar consciência do processo que gera tantos desmandos. Quem tem um pouco de informação do que ocorre na política sabe que o processo danoso se chama financiamento de campanhas eleitorais.

Para se eleger, é preciso arrecadar cada vez mais recursos, pois as campanhas são ainda mais caras. Quem não consegue arrecadar uma boa quantia de dinheiro tem pouca chance de se eleger. Quem investe nos candidatos quer retorno, e a maioria dos políticos passa metade do mandato tentando retribuir as doações e a outra metade tentando assegurar recursos para a próxima eleição. O retorno se dá ou por medidas que beneficiam só os doadores ou por meio de acesso privilegiado a recursos públicos.

Não conheço nenhuma empresa que goste de ver seu nome aparecer na lista oficial de doadores. Por isso, a grande maioria dos recursos de campanha (mais de 80%) tem origem em caixa dois e em outras atividades ilegais que, infelizmente, ganham cada vez mais influência na política.

Esse sistema perverso produz uma classe política em geral de baixíssima qualidade (com minoritárias e honrosas exceções), que não hesita em usar o cargo para o enriquecimento pessoal e para a formação de vultosas caixas de campanha.

A política está virando um grande negócio movido majoritariamente por dinheiro ilegal, que pavimenta o caminho da eleição e cobra retorno lesivo à democracia e aos interesses sociais, econômicos e éticos do Brasil.

Não podemos nutrir nenhuma esperança de que o Congresso Nacional introduza mudanças profundas no processo político pela simples razão de que essas mudanças inviabilizarão a carreira política da maioria dos atuais políticos que chegaram ao poder graças ao sistema atual (é por isso que nunca sai do discurso uma verdadeira reforma política).

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