terça-feira, 22 de março de 2011

"DE POLÍTICA E DE NUVENS"


"Política é como nuvem", frase mineira que alguns atribuem a Magalhães Pinto, outros, a Tancredo Neves, reflete bem determinados momentos da vida nacional. Como nos momentos de agora. Em ano eleitoral, o que foi dito ontem já não vale mais nada hoje e, possivelmente, o que está sendo acertado hoje, amanhã será outro dia. Como diz o filósofo Bambam, "faz parte". É do folclore da vida nacional.
No entanto, isso traduz uma certa falta de coerência, de respeito ao eleitor e às promessas a ele efetuadas em campanhas anteriores. Aquele que se apresentava como vestal, defensor de ideais voltados para uma sociedade mais justa, onde a soberania e independência do país deviam ser defendidas até o último tiro e cuja honestidade de propósitos estava acima de qualquer suspeição, tão logo toma assento no poder começa a trilhar estrada totalmente oposta.
Se no passado o ocupante do trono merecia críticas por pedir ao povo que esquecesse tudo que havia escrito e dito anteriormente, o que não dizer de seus críticos que ao assumir o posto, logo trataram de defenestrar qualquer participação mais à esquerda em sua conduta e participação política? A isto se costuma aplicar a referida frase mineira, de que política é como nuvem. Hoje está aqui, amanhã, acolá.
É normal a quem assiste o noticiário telejornalístico ou se debruça a ler o cotidiano dos jornais, observar a distância entre a palavra e a ação de alguns membros da classe política. Exemplo: no governo passado os petistas criticavam como veemência à ação governamental junto ao Congresso, a que chamavam de "lei da mordaça". Hoje, no poder, os petistas praticam a mesma "lei da mordaça" com a maior naturalidade.
É comum se observar após as eleições para o Congresso ou Assembléias Estaduais, os eleitos jurarem de pés juntos que vão cumprir seus mandatos de quatro anos bem como, as promessas feitas ao eleitorado. Em menos de dois, já postulam as eleições municipais e negam ter feito tais observações. Talvez esqueçam que alguém já inventou os gravadores e o vídeo cassete. Coisas da mineirice matreira que se institucionalizou no país, onde a palavra, assim como a política, é como nuvens. E assim vamos vivendo.
Se no passado se criticava o governo federal por não construir escolas, postos médicos, reparar estradas, aplicar no social, e coisas de responsabilidade governamental, sobra agora uma pergunta: o governo atual construiu alguma sala de aula? Algum posto médico? Reparou as estradas federais? Cumpriu metas sociais? O fome zero saiu do papel? Uma coisa eu tenho certeza que o governo cumpriu com absoluta responsabilidade. Pagou religiosamente em dia os serviços da dívida externa, e amealhou setenta milhões de dólares para adquirir um moderno avião para a Presidência da República. Cinqüenta e sete milhões pela aeronave e mais treze para as adaptações ao gosto do atual mandatário.
Quanto ao projeto carro chefe do governo, o fome zero, tive o prazer de observar dia desses, em um restaurante de Santos, um dos mais caros por sinal, vários ocupantes da direção de uma estatal se deliciando entre paellas e lagostas, num descontraído papo que bem poderia ser sobre o referido projeto. Isto inclui a alimentação na frase mineira. Alem da política, também os pratos saborosos são como nuvens. Aproveita-los enquanto se pode, deve ser a meta principal de vestais que hoje representam o poder. Para os filósofos tipo Bambam, imbuídos de sua inocência, isto também faz parte. Resta saber até quando.

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