Candidatos com ficha policial ou cassados pela Justiça Eleitoral afrontam a Lei da Ficha Limpa e fazem campanha, confiantes de que serão eleitos. Há casos emblemáticos em vários estados envolvendo nomes notórios, como ex-governadores, um dirigente de futebol e até um bicheiro.
Em Alagoas, o ex-governador Ronaldo Lessa, cujo pedido de candidatura ao governo pelo PDT foi impugnado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), foi orientado pelo advogado a ignorar a decisão da Justiça e continuar em campanha. Para Lessa, a decisão do TRE-AL foi política e será revertida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele não se considera um "ficha-suja", apesar de condenado por um colegiado, acusado de abuso de poder político e eleitoral, nas eleições de 2004. "Os verdadeiros bandidos permanecem impunes, enquanto eu estou sendo punido por ter dado aumento aos servidores da Educação", afirma.
José Carlos Gratz, preso em 1989 pela Polícia Federal acusado de comandar o jogo do bicho em Vitória, foi uma espécie de governador às avessas, exercendo enorme poder na vida política e econômica do Espírito Santo. Do cargo de presidente da Assembleia Legislativa, controlava o Poder Executivo. Em 2002, acusado pelo Ministério Público Estadual do desvio de 26,7 milhões de reais do Legislativo, teve o mandato cassado. Foi preso outras duas vezes, e ainda responde em liberdade a cerca de 150 ações judiciais.
Mesmo com um currículo desses, encontrou abrigo no nanico PSL e arquitetou a volta à vida pública, na disputa pelo cargo de senador. Foi o primeiro político do país a questionar a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa no Supremo Tribunal Federal (STF), com duas ações com pedido de liminar, nas quais busca sustentar a candidatura. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai julgar uma das ações, e a outra teve o pedido negado pelo ministro do STF Carlos Ayres Britto.
Dos candidatos impugnados pela Procuradoria Eleitoral do Maranhão, enquadrados na Lei da Ficha Limpa, todos aparecem na TV e no rádio fazendo campanha normalmente, como Jackson Lago (PDT), Sarney Filho (PV), Cléber Verde (PRB) e Márcia Marinho (PMDB).
No Rio, o ex-presidente do Vasco Eurico Miranda, que já foi deputado federal, tenta voltar ao Congresso apresentando-se como candidato "ficha limpa" - apesar de ter sido condenado pela 4ª Vara Federal Criminal do Rio a 10 anos de prisão por crimes tributários em 2007, decisão depois anulada pelo STJ. Como nunca foi condenado por um órgão colegiado, Eurico define-se como um candidato com a "ficha limpíssima". "Foi justamente essa lei que me motivou a fazer campanha", afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo.
(Com Agência Estado)
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